No momento em que a pandemia de coronavírus paralisa várias atividades, o Brasil não consegue ter a verdadeira dimensão da crise imposta pela quarentena ao emprego por falta de estatísticas precisas.
A divulgação pelo Ministério da Economia do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que contabiliza demissões e admissões formais, está suspensa desde janeiro. E o apagão se agravou com a pandemia.
Com isso, economistas e entidades representativas do setor produtivo enfrentam dificuldades para prever o impacto da crise no mercado de trabalho e no consumo das famílias e planejar ações contra a crise.
O presidente da seção paulista do Sindicato das Empresas e Serviços Contábeis (Sescon-SP), Reynaldo Lima Júnior, reforça a preocupação:
“O Caged é muito importante para auxiliar as empresas na tomada de decisão. Ficamos sem referência, às cegas”.
Economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Maria Carolina Marques diz que sondagens da entidade não captam totalmente o choque nos empregos:
Caged
Se o Caged estivesse ativo, já seria possível ter os dados de abril e até de meados de maio, porque as empresas repassavam as informações até o sétimo dia do mês seguinte.
O Caged parou com a decisão do governo de migrar os dados para a plataforma e-social em janeiro. O novo sistema é mais abrangente e complexo. Muitas empresas, sobretudo pequenas, tiveram dificuldades para inserir dados.
O governo deu mais prazo de adaptação e, com a pandemia, não tem previsão de retomar a divulgação do cadastro, que traz dados sobre renda, idade e sexo dos trabalhadores, além de porte e distribuição regional dos empregadores.
Para o consultor Rodolfo Torelly, o ideal teria sido manter os dois sistemas funcionando até completar a transição. “O Caged funcionou por 54 anos, estava incorporado à rotina das empresas.”
Torelly lembra que o Caged é usado pelo Sistema S, integra a base do Cadastro Nacional de Informações Sociais (Cnis), da Previdência Social, e complementa informações do seguro-desemprego, cujos dados têm sido mascarados pela fila de ao menos 200 mil pedidos à espera do benefício.
A Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, do Ministério da Economia, diz que não há previsão para a retomada da divulgação do Caged porque muitos empregadores estão sem certificado digital e sem serviços de contabilidade, com muitos funcionários em home office.
A secretaria diz que a base de dados existente não é confiável porque há a suspeita de que algumas empresas só informaram admissões em janeiro ou não fizeram qualquer declaração.
“Montamos um grupo de trabalho com IBGE, Ipea, FGV, PUC e Insper, para que os dados possam ser certificados pelos maiores especialistas do país e voltem a ser publicados com total qualidade”, informou a secretaria, acrescentando que alguns dados podem ser liberados em maio.
Fonte: Portal contábeis
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